sábado, 25 de junho de 2011

Resenha da obra A Norma Oculta: Língua e poder na sociedade brasileira, de Marcos Bagno.




O livro ”A Norma Oculta: Língua e poder na sociedade brasileira”, está organizado da seguinte maneira: um prólogo, três capítulos e um epílogo.

O prólogo, intitulado Mídia, preconceito e revolução, chama atenção para o fato de alguns jornalistas terem criticado a forma de falar do ex -presidente Luís Inácio Lula da Silva(Lula) simplesmente por ele não usar a norma padrão (imposta pela gramática normativa).
Em nossa sociedade o uso da gramática normativa é posto como uma regra que jamais pode ser quebrada e quem se comunica através de formas estigmatizadas não está apto a ocupar cargos importantes.
NÃO É BEM ASSIM!O povo brasileiro é muito grande e possui uma variedade linguística incrível. Por isso, devemos respeitar cada forma de expressão e não apenas criticá-lasdizendo que estão erradas.  Marcos Bagno 2003 diz que devemos “olhar para a língua dentro da realidade histórica, cultural, social em que ela se encontra, isto é, em que se encontram os seres humanos que falam e escrevem”. A partir desse trecho, podemos nos conscientizar de que não podemos exigir que nossa população unifique seu modo de falar porquê isso depende do contexto em que a pessoa está inserida. Se há pessoas com pouca escolaridade ou que não tiveram acesso a escola, como podemos exigir que essas pessoas conheçam a “norma padrão” imposta pela gramática normativa?
Lula foi um presidente que possuía a cara do povo brasileiro, ele sabia se comunicar de acordo com o ambiente em que estava inserido, ou seja, ele possuía uma verdadeira apropriação de nossa língua, pois sabemos que o  conhecedor de uma língua não é apenas o que domina a norma culta, na verdade, é aquele que sabe usar a sua fala de forma diferenciada em ambientes distintos.
Lula atendia tanto as expectativas das camadas menos favorecidas quanto ás expectativas dos setores mais conservadores.
Ao ler a definição dos três capítulos, intitulados: Por que norma?Por que culta? Um pouco da história : o fantasma colonial e a mudança linguística, Por que gramática do português brasileiro; percebemos que não existe um único significado para a palavra norma. No dicionário Houaiss da Língua Portuguesa podemos perceber a duplicidade de sentidos:
A partir desses significados fica o questionamento: O que é norma? Ela deve ser imposta ou de variar? Ela é homogênea ou heterogênea? Imutável ou sujeita a transformações? A dúvida persiste e nos resta esperar que alguém, um dia, consiga defini-la com precisão.
Outro aspecto abordado é a definição de culto como sendo o antônimo de popular. Algumas gramáticas apresentam dois níveis: o culto e o inculto. Ora, se o culto é a forma de expressão das  classes privilegiadas, então os outros são incultos? Culturas diferentes são compostas por pessoas incultas? Será que a maioria do povo brasileiro é inculto? É claro que não! Cada um fala de acordo com o seu ambiente e não deve ser chamado de inculto por isso. Segundo Marcos Bagno2003:

Esse par de antônimos (culto e inculto) acaba provocando a inevitável associação com todos os sentidos possíveis capazes de se abrigar no senso comum, por trás da palavra inculto: “rude”,” tosco”, “grosseiro”,” bronco”,” selvagem”,” incivilizado”,” cru”,” ignaro”, “ignorante” e por aí vai, longe..
Baseando-se nisso, devemos pensar melhor antes de chamar uma pessoa de inculta.
Que fique bem claro que não somos contra a gramática normativa e o uso da norma culta. Esse uso é necessário em determinados ambientes para que haja um padrão (em documentos, por exemplo), mas que esse “padrão” não deva ser colocado como sendo o único correto e aquele que deve ser seguido sem contestação. Devemos perder esse estigma de afirmar que existem falas “erradas” ou “certas”, o que existe é a fala do povo que deve ser respeitada.
Postado por Emanuele Freitas 

2 comentários:

  1. Meninas, muito boa a resenha sobre o livroo do Marcos Bagno, esclareceu muito as dúvidas que eu tinha sobre as varições linguísticas existentes no Brasil, Valeu...

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  2. Adorei o resumo do livro. Foi bem esclarecedor. Não tinha lido ainda, mas parece ser bem interessante. Vou ler. :D
    Vamos agora lutar pra colocar as teorias em prática, fora dos muros da universidade! ^^

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